CONVERSAS PSICANALÍTICAS COM O DR. EDUARDO BAUNILHA
Amor romântico: uma ação desafiadora
A infância é uma fase de grandes alegrias, mas também de muitas tristezas. Na maioria das vezes, o amor que não tivemos nesta fase primeira da vida, buscamos em um outro alguém com quem desejamos um amor romântico.
O amor redime. Tal pensar é um fato. Mas não podemos esquecer que devemos estar dispostos a sermos redimidos.
Muitas vezes, com as frustrações e rejeições na infância, passamos a acreditar que não somos dignos de sermos amados. Então, quando acontecem decepções em algum enlace sentimos como se realmente não merecêssemos sermos amados, pois esse relacionamento rompido, confirma a tese que abarcamos na infância.
Toni Morrison, em seu livro O olho mais azul, relata que o pensamento do amor romântico é o mais destrutivo na história do pensamento humano. E Morrison acerta em cheio.
Uma experiência de amor vivenciada por duas pessoas precisa alcançar um conceito do amor que está para além do sentimentalismo. E qual o primeiro passo?
É entender que o amor é uma ação, um ato de vontade. É muito mais que um sentimento avassalador, pulsante, bom; mas uma escolha, um julgamento. Tais conceitos põe por terra a ideia de que o amor é apenas um romance, crença dificulta e limita a verdadeira vivência do amor.
Para alcançarmos o que desejamos, no caso, o amor, é preciso dar um passo para trás e nos avaliarmos. Por que queremos amar? Quais as necessidades, anseios e desejos por trás deste querer? Estou realmente preparado para este momento ou nos preparamos durante a caminhada?
Bell Hooks nos auxilia na ponderação oriunda das questões levantadas nos respondendo com algumas linguagens diferentes das usuais: “Seria diferente se disséssemos: ‘tenho uma conexão com alguém de um jeito que me faz achar que estou a caminho de conhecer o amor’”, ao invés de disser: ‘acho que me apaixonei’”. Ou se disséssemos: ‘estou amando’ ao invés de disser: ‘estou apaixonado’” (HOOKS, 2021, p. 297).
A provocação de Bell Hooks nos faz pensar que se mudarmos nossa linguagem a respeito do amor, certamente teremos um preparo mais interessante para vivenciarmos uma ação realmente transformadora.
Um ato que nos fará ver o outro como um ser incompleto, assim como nós mesmos, e que em uma união reflexiva e dominada pela comunicação sincera, realizará o milagre do crescer nos dois sentidos, mesmo que algumas arestas jamais sejam reparadas.
Depois destes ditos entendemos e percebemos que para viver o amor é preciso trabalho mútuo, constante e veraz.
Você está disposto a se entregar a este exercício desafiador?
Um fortíssimo abraço para você!
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