CONVERSAS PSICANALÍTICAS COM O DR. EDUARDO BAUNILHA
Viver a ética amorosa
É tão lúcido pensarmos que o amor precisa estar em mim como uma mola propulsora para e das minhas ações, mas é tão sensato pensarmos também que o amor necessita ser visto como um fenômeno social.
Então, diante disso, pensamos: como pode o amor se tornar universal, social, em um mundo impregnado pela obsessão do poder e dominação?
É neste ínterim que entra a ética amorosa. Fomos criados para a conexão. É uma necessidade básica humana. E uma união verdadeira não existe se não houver cumplicidade, intimidade, verdade, confiança e amor.
Assim, a ética me leva a um lugar em que eu não consigo pensar apenas na troca como mote para a conexão, no bem material como conduto da união. Ela me faz banhar no rio que desemboca o compromisso, a lealdade e a integridade. Embalados por esses dificilmente não veremos o outro como alguém que precisa ser cuidado, atendido, acolhido, valorizado, porque para além de qualquer ganho, a vida e o bem-estar humanos ganharão a primazia.
Bell Hooks (2020, p. 124) diz que “não conhece ninguém que tenha adotado a ética amorosa e não tenha se tornado uma pessoa mais alegre e mais realizada”. Ou seja, a ética amorosa transforma nossa vida para melhor.
É lógico que viver assim não é uma tarefa tranquila. As pessoas estão individualistas, intolerantes, distantes até. Mas neste momento aparece a fé. Acreditar que podemos recuperar o desejo de fazer com que o poder transformador do amor aja, nos torna pessoas mais responsáveis em palavras e ações.
Inicialmente conversamos sobre o poder e dominação como elementos que atrapalham a ética amorosa. E realmente disfuncionam toda a ação real e benéfica do amor.
A dominação promove a obediência pelo medo. Tal estratégia tem nos deixado apavorados. Diante desta realidade, escolher viver e promover o amor ajuda a afugentar o medo e, consequentemente, diminui a ação da dominação. Ação que não é só empreendida por grandes empresários ou corporações, mas por todos aqueles que não se nutrem da ética amorosa.
Termino esta conversa com uma questão para vocês pensarem: se colocássemos na ordem do dia a ética amorosa, será que precisaríamos nos preocupar com a fome, o desemprego, com pessoas em situação de rua ou com violência nas escolas?
Um fortíssimo abraço para você!
Referência:
HOOKS, Bell. Tudo sobre o amor. Trad. Stephanie Borges. São Paulo: Elefante, 2021.
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